Pior que mal-fodido é mal-amado
É preciso ter calma, muita calma e começarmos por aceitar a nossa verdadeira dimensão, o facto de que não passamos de um simples grão de areia encavalitado noutro grão de areia, perdidos algures pelo Universo. Completamente insignificantes, estatisticamente irrelevantes.
Só a partir daí, desse ponto, podemos ambicionar evoluir para qualquer coisa perto do verosímil.
As pessoas não mudam, adaptam-se.
Tanta coisa por dizer, gritar, mas totalmente absorto no que estou a sentir, se por um lado quero a mudança, e quero-a já, por outro sinto-me falso, como se vivesse em negação ou estivesse a mentir. O horizonte é agora só uma fachada, não há planos, os objectivos não existem, são só esboços, pensamentos, papelada avulsa empurrada para dentro de uma gaveta.
Gostava de te ter aqui, hoje, receber-te de braços abertos, ouvir de ti as novidades, mesmo que o resultado final fosse voltar ao abismo.
A taxa de sobrevivência na selva é directamente proporcional à tua capacidade de adaptação
A verdade matemática não explicava nada, os anos das datas de nascimento impressos nos cartões de ambos não coincidiam, embora os meses estivessem caprichosamente perto e a década fosse a mesma. Não existem subterfúgios, a vida e os seus indecifráveis planos e circunstâncias, juntou-os, separou-os e inesperadamente juntou-os de novo, neste caso para unir, num acaso de pormenores e coincidências, pequenos jackpots do jogo da vida. A verdade é que alguém tinha medo de se dar, apenas porque já se tinha dado outras tantas vezes e as mesmas tantas vezes tinha-se dado mal. Alguém já não se queria dar mais - assim - porque a vida é de partilha e não de compromissos de "novela da noite" ou de espartilhos de liberdade.
Alguém jurou que nunca mais se permitiria a ser paquete turístico em escala no mar do amor, na pasmaceira da obrigatoriedade de uma média ponderada (indexada a uma qualquer Euribor de romance) de contactos diários e das recorrentes demonstrações de afecto para internautas & outros verem, e mesmo que a navegar ao sabor da maré, iria certamente afastar-se da correnteza naufragante dos ciúmes e das subsequentes figuras patéticas que por aí assombram.
Alguém aprendeu com alguém que o amor é uma coisa bonita, cheia de ingenuidades e castelos cor-de-rosa, mas não tão perfeito como anunciam, isso, alguém aprendeu com outro alguém. No fim a felicidade não se importa com definições estrangeiras de amor ou paixão.
Alguém reparou que a vida dá-nos sempre, se formos justos, aquilo pedimos e que de certa forma, fazemos por merecer. Alguém aprendeu a assumir e a não julgar os defeitos dos outros, a ser mais tolerante e a não estabelecer nas relações uma garantia vitalícia baseada em coisas que nos ultrapassam, mas apenas porque gostamos de estar com alguém que simplesmente ouve, sente e pensa em sintonia connosco, e que nos aceita, ou tolera, em quase todos os feitios, sobretudo nos péssimos, de manhã ao acordar e ao fim do dia, e que nos fazem sentir melhores pessoas, não apenas por palavras, mas nos pequenos e grandes gestos que nos fazem crescer, abraços e beijos que nos fazem sentir compreendidos, e porque não, amados...
...isso ou apenas mais uma bola de neve a deslizar do cume do Evereste!
YOU CAN'T ALWAYS GET WHAT YOU WANT - "Let It Bleed"
Richards / Jagger
Se te limitares a aprender apenas o que te querem ensinar, nunca vais saber realmente nada.
Quando chegares aos 67, faz log-off.
(e fecha a porta)
Um dia subi contigo a um miradouro escondido, pequeno parque de estacionamento secreto, varanda natural sobre a praia, aí trocámos de corpos, diluímo-nos um no outro, amassados, ofegantes, completos. Nesse dia, sem me aperceber, guardei para a eternidade o teu sabor, o teu toque suave de mãos pequenas e delicadas, o teu perfume, a sensação da leveza do teu corpo no meu quadril. Vivi o sonho, trinquei o desejo, agarrei-me a ti até ao último vestígio na colher, lambida até ao metal, até ao último travo de cigarro, fumado até ao vazio, até à última gota no copo, bebida de um só trago, até cair, redondo, apático, numa overdose de ti.
Estaremos sempre por ali, num lugar secreto entre a maré cheia e a maré vaza
Se passares a vida a fazer apenas aquilo que te pedem, nunca passarás de um escravo.
Lantejoulas cintilantes resplandeciam do teu decote, enquanto tentavas, de forma pouco dissimulada colocar o fio dos headphones por dentro da blusa. Impávido e sereno passeava o reformado, obstinado na tentativa vã de controlar o caos enfadonho em que se tornou a sua existência e corpo, e que internamente já lhe mostrava os sinais de falência. A jovem americana continua sem fazer puto de ideia do que é Portugal, apêndice de Espanha, desvio de rota, voto de must see do tripadvisor, irá comer sardinhas caras, beber cerveja barata e comprar souvenirs de cortiça. A jovem decotada afinal ouve musica moderna, aparentemente o Rock não abalou as novas gerações, tornou-se vintage na sua plenitude, obra, ouvintes e executantes.
Nada contra, haja dinheiro e saúdinha, cá se vai andando, dizem que vem aí bom tempo, quem me dera ter outra vez "vintanos".
Que mais sentiria o coração, na hora da arritmia sentimental, depois do alvoroço e das lágrimas perdidas na calçada, diluídas no lixo calcado de tantas vidas alheias, que diria eu, em próximos jantares de família e amigos, que desabafos ou palavras teria?
Haveriam certamente explicações para dar, frases feitas para ouvir, copos cheios para esvaziar, mas para que lado iria eu dormir, sonâmbulo sem-abrigo, e em que colchão me iria deitar?
Fariam sentido ou serviriam de amparo, as bengalas substitutas ao teu ombro? Vingaria-me nos lugares comuns, manifestações corriqueiras e previsiveis de um choradinho à laia de um "Gloria Gaynor" másculo ou escolheria as espirais silenciosas e apáticas dos processos auto-destrutivos?
Tudo faria sentido, mas nada significaria o mesmo, sem ti.
(Nunca significou)
Foi num estado de completo desespero que Pedro saiu e fechou a porta atrás de si, convicto que seria a última vez a fazê-lo, apoiando-se na teoria apressada da inevitabilidade das coisas. Quem não tivesse o hábito humano de observar faces – e assim reparar que tinha estado a chorar - facilmente apercebia-se, pela sinalética corporal agitada e confusa de quem desce os lances de escadas a galope - de 2 em 2 degraus desde o 5º andar, e cara em forma de seta - que algo não estava bem, e que nesse preciso momento não existia mais nada atrás de si.
Ainda esperou que uma voz o tentasse deter, um: “Pedro espera, por favor, volta para dentro”, que ele obviamente retorquiria com o egocentrismo aliviado de um: “Não Joana, falamos depois”, era esse a táctica de um jogo não planeado, o habitual, mas desta vez nada existiu ao sair disparado pela porta, nem ao descer as escadas, ao fechar a porta do prédio, no trajecto que fez até ao carro, do carro para outro lado, no passar sequencial e vagaroso dos quilómetros, ao meter a chave noutra porta, ao ficar atónito e estarrecido no sofá. Nada. Apenas ouvia dentro de si as vozes de um caos que já estava bem instalado.
Pedro amava Joana, uma banalidade, Joana amava Pedro, algo que ele agora só queria ter novamente por certo.
Nunca apontes uma arma a um gajo que tem as mãos nos bolsos
Do quarto de hotel não se vislumbravam linhas no horizonte, apenas paisagens contrastantes de parques de estacionamento, prédios, esplanadas e montanhas de cume branco, e também a ténue memória de esperança anexa a ti.
As sandes low-cost de razoável valor nutricional saciavam um estômago vazio e a cabeça almejava um pouco mais de liberdade na presença de um saudoso sentimento de voltar a estar em casa.
Fazes-me falta... tanto quantas as vezes que o digo! (sempre)
LIKE A STONE - "Audioslave"
Cornell, Morello, Commerford, B. Wilk
On a cob web afternoon,
In a room full of emptiness
By a freeway I confess
I was lost in the pages of a book full of death;
Reading how we'll die alone.
And if we're good we'll lay to rest,
Anywhere we want to go.
In your house I long to be;
Room by room patiently,
I'll wait for you there like a stone.
I'll wait for you there alone.
And on my deathbed I will pray to the gods and the angels,
Like a pagan to anyone who will take me to heaven;
To a place I recall, I was there so long ago.
The sky was bruised, the wine was bled, and there you led me on.
In your house I long to be;
Room by room, patiently,
I'll wait for you there like a stone.
I'll wait for you there alone, alone.
And on I read until the day was gone;
And I sat in regret of all the things I've done;
For all that I've blessed, and all that I've wronged.
In dreams until my death I will wander on.
In your house I long to be;
Room by room, patiently,
I'll wait for you there like a stone.
I'll wait for you there alone, alone.
Na vida não peso a sorte
Pois tudo de mim deriva
A minha vontade é viva
Da vida só temo a morte
Antes de saltares para o desconhecido, assegura-te que não é um precipício. Antes de saltares para dentro de um buraco, assegura-te que consegues sair dele sozinho.
A velha ao meu lado tem a fralda cagada,
Estou preso a esta assento, mortalha
Entro em apneia. Respiro!
Perco a batalha...
Conversas triviais ao telemóvel,
No banco de trás do transporte
Palavras avulsas que me obrigo a ouvir, num desatino,
Por imposição de um tom de voz desproporcional á situação,
O resto é indecifrável,
Um misto atabalhoado de sons
Não percebo crioulo,
À minha frente um intenso ataque de tosse
Convulsões, espirros, fungadelas
Todo um misto de doenças à la carte,
Entro as fezes da velha e a doença
Reparto esta apneia,
Esta teia,
Chega a minha vez
Stop! Parto. Respiro.
A cidade é minha aldeia
A verborreia assalariada dos apostadores da léria da sorte dos concursos de azar, euromilhões de milhões de gananciosos apostadores num shot de nada, sonho paupérrimo da ínfima possibilidade de mudar aquilo que nunca deixarão de ser - miseráveis de espírito - defende a pés juntos que já o sabe e vomita em qualquer conversa, da banal mesa de café á secretária administrativa de mogno da multinacional onde exploram e são explorados que: "o dinheiro não é tudo"
No entanto, no marasmo de emoções estéreis e avarentas em que se tornaram todos os segundos da sua existência, esquecem-se constantemente - ou fazem-se de esquecidos - que na verdade - na mais pura das verdades - os momentos únicos não possuem etiqueta, são inquantificáveis monetariamente, e que o que se faz com o tempo é - paradoxalmente - imensurável. Esquecem-se sistematicamente, obtusos na ganância, que um restaurante de luxo não passará nunca de um restaurante, taberna, casa de pasto, tasco, lugar onde se passa e paga demasiado, e que por mais bela vista panorâmica que tenha não chegará nunca aos calcanhares de sandes abocanhada no sopé da montanha, em plena natureza primaveril, que nenhuma piscina interior, aquecida e desinfectada, baterá alguma vez o mergulho - espontâneo e livre de amarras e azulejos - no rio, que nenhum bólide alemão, na pura definição do prolongamento do ego mal resolvido, poderá alguma vez rivalizar com o chaço empoeirado da nossa juventude, repleto de ferrugem e sonhos, revisões fora da marca, sem receios de avarias, e que o tempo contado, matemático, esse será sempre o mesmo, sejam 60 segundos de Rolex ou de Timex fajuto da Praça de Espanha, pois o que fazes com ele é que realmente define o seu valor, e no fim importa! Calvin Klein's com manchas de sémen ressequido serão sempre cuecas, pano amarrotado com manchas de sémen ressequido, apenas isso e as memórias dessa noite, só a boa ou má experiencia perdura e segue, estrada fora, vida fora, na eternidade efémera ou não das coisas.
Lê o livro, faz o filme, visita, vibra, grita, canta, sua, corre, pula, ama, que o dinheiro é vicio, a ganância do consumo um jogo de azar, um dado viciado onde apostas tudo, até a vida, (sempre) para perder.
(Abre os olhos!)
MONEY - "Dark Side of The Moon"
Roger Waters
Money, get away
Get a good job with more pay and you're okay
Money, it's a gas
Grab that cash with both hands and make a stash
New car, caviar, four star daydream
Think I'll buy me a football team
Money, get back
I'm all right Jack keep your hands off of my stack
Money, it's a hit
Don't give me that do goody good bullshit
I'm in the high-fidelity first class traveling set
And I think I need a Lear jet
Money, it's a crime
Share it fairly but don't take a slice of my pie
Money, so they say
Is the root of all evil today
But if you ask for a raise it's no surprise
That they're giving none away
Away, away, way
Away, away, away
Por mais peças que mandes abaixo, no Xadrez só ganhas quando derrubas o Rei.
Aperaltados, azucrinados, desfigurados sem absolvição. Em que biblioteca acumula pó o livro do saber? E quem o leu? Onde moram as pessoas reais? Para onde vai o imposto audiovisual? Quais as minhas percentagens de consumo e despesa na sociedade? Onde está guardada a minha ficha e quem a consulta? Porque raio ninguém acerta na meteorologia? Porquê esperar sorte num jogo que se auto-intitula de azar? Há de facto publicidade não enganosa? Qual o seu real propósito? O arroz basmati também chega aos pobres e sem-abrigo da ajuda alimentar? E importa?
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