A verdade matemática não explicava nada, os anos das datas de nascimento impressos nos cartões de ambos não coincidiam, embora os meses estivessem caprichosamente perto e a década fosse a mesma. Não existem subterfúgios, a vida e os seus indecifráveis planos e circunstâncias, juntou-os, separou-os e inesperadamente juntou-os de novo, neste caso para unir, num acaso de pormenores e coincidências, pequenos jackpots do jogo da vida. A verdade é que alguém tinha medo de se dar, apenas porque já se tinha dado outras tantas vezes e as mesmas tantas vezes tinha-se dado mal. Alguém já não se queria dar mais - assim - porque a vida é de partilha e não de compromissos de "novela da noite" ou de espartilhos de liberdade.
Alguém jurou que nunca mais se permitiria a ser paquete turístico em escala no mar do amor, na pasmaceira da obrigatoriedade de uma média ponderada (indexada a uma qualquer Euribor de romance) de contactos diários e das recorrentes demonstrações de afecto para internautas & outros verem, e mesmo que a navegar ao sabor da maré, iria certamente afastar-se da correnteza naufragante dos ciúmes e das subsequentes figuras patéticas que por aí assombram.
Alguém aprendeu com alguém que o amor é uma coisa bonita, cheia de ingenuidades e castelos cor-de-rosa, mas não tão perfeito como anunciam, isso, alguém aprendeu com outro alguém. No fim a felicidade não se importa com definições estrangeiras de amor ou paixão.
Alguém reparou que a vida dá-nos sempre, se formos justos, aquilo pedimos e que de certa forma, fazemos por merecer. Alguém aprendeu a assumir e a não julgar os defeitos dos outros, a ser mais tolerante e a não estabelecer nas relações uma garantia vitalícia baseada em coisas que nos ultrapassam, mas apenas porque gostamos de estar com alguém que simplesmente ouve, sente e pensa em sintonia connosco, e que nos aceita, ou tolera, em quase todos os feitios, sobretudo nos péssimos, de manhã ao acordar e ao fim do dia, e que nos fazem sentir melhores pessoas, não apenas por palavras, mas nos pequenos e grandes gestos que nos fazem crescer, abraços e beijos que nos fazem sentir compreendidos, e porque não, amados...
...isso ou apenas mais uma bola de neve a deslizar do cume do Evereste!
YOU CAN'T ALWAYS GET WHAT YOU WANT - "Let It Bleed"
Richards / Jagger
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