Como poderia eu começar se o que apenas me interessava era o fim, o producto acabado, o resultado? Como poderia eu desenhar ou construir a estrada se a minha sede era de apenas sentir o alcatrão já usado e seguro, com marcas de travagem a indicar as curvas perigosas, mais facilmente respeitáveis que meros avisos e sinaléticas do senso comum? Como poderia eu arriscar, se sempre me deixei guiar pelo confortável e pelo sentido de oportunidade apurado?
A verdade, se é que existe realmente uma, é que me vou sempre safando, e também, que amo profundamente, da maneira mais pura e verdadeira que conheço - simplesmente hilariante - as coisas, sinto por isso que conheço bem as bases em que se constrói e destrói o amor e também que a minha inépcia ditará (sempre) o seu fim. Será isto choradinho de misericórdia ? Será um apontar do dedo ao espelho ? Será o eterno complexo de culpa de que todos padecemos, mais ou menos, de forma intensa ?
Claro que não, são apenas merdas que eu penso, diariamente, por norma sempre antes do almoço, por isso, deve ser fome.
(quando mistificamos o sentido das coisas, encontramos significado em tudo)
Pessoalmente, sempre que vejo alguém a falar dos seus sentimentos e dos possíveis erros que pode ter cometido relativamente aos mesmo e a intercalar isso com expressões como "simplesmente hilariante", "Será isto choradinho de misericórdia? Será um apontar do dedo ao espelho? Será o eterno complexo de culpa de que todos padecemos, mais ou menos, de forma intensa?", "Claro que não, são apenas merdas que eu penso, diariamente, por norma sempre antes do almoço, por isso, deve ser fome", isso soa-me sempre a mecanismos de defesa... A pessoa expõe-se a medo, antecipando os possíveis ataques de que possa vir a ser alvo e, como tal, vai-se atacando e defendendo a ela própria de forma a desarmar o "inimigo"... Ou seja, expõe-se mas coloca imediatamente a capa do "simplesmente hilariante" e do "deve ser fome"... Digo eu, claro... Só você saberá o que pensa e sente...
"Quando mistificamos o sentido das coisas, encontramos significado em tudo"... Neste ponto, faço mea culpa... Quando me apaixono sou capaz de mistificar cada pequeno pormenor... Um dia o amor morre e nós percebemos que aquilo que viamos como um acto querido e revelador de amor não passava de um acto calculado, fruto da inteligência e do conhecimento que essa pessoa tinha de nós, do que nós gostávamos e de como nos tocar no coração/manipular...