Foi num estado de completo desespero que Pedro saiu e fechou a porta atrás de si, convicto que seria a última vez a fazê-lo, apoiando-se na teoria apressada da inevitabilidade das coisas. Quem não tivesse o hábito humano de observar faces – e assim reparar que tinha estado a chorar - facilmente apercebia-se, pela sinalética corporal agitada e confusa de quem desce os lances de escadas a galope - de 2 em 2 degraus desde o 5º andar, e cara em forma de seta - que algo não estava bem, e que nesse preciso momento não existia mais nada atrás de si.
Ainda esperou que uma voz o tentasse deter, um: “Pedro espera, por favor, volta para dentro”, que ele obviamente retorquiria com o egocentrismo aliviado de um: “Não Joana, falamos depois”, era esse a táctica de um jogo não planeado, o habitual, mas desta vez nada existiu ao sair disparado pela porta, nem ao descer as escadas, ao fechar a porta do prédio, no trajecto que fez até ao carro, do carro para outro lado, no passar sequencial e vagaroso dos quilómetros, ao meter a chave noutra porta, ao ficar atónito e estarrecido no sofá. Nada. Apenas ouvia dentro de si as vozes de um caos que já estava bem instalado.
Pedro amava Joana, uma banalidade, Joana amava Pedro, algo que ele agora só queria ter novamente por certo.
Nunca apontes uma arma a um gajo que tem as mãos nos bolsos
Do quarto de hotel não se vislumbravam linhas no horizonte, apenas paisagens contrastantes de parques de estacionamento, prédios, esplanadas e montanhas de cume branco, e também a ténue memória de esperança anexa a ti.
As sandes low-cost de razoável valor nutricional saciavam um estômago vazio e a cabeça almejava um pouco mais de liberdade na presença de um saudoso sentimento de voltar a estar em casa.
Fazes-me falta... tanto quantas as vezes que o digo! (sempre)
LIKE A STONE - "Audioslave"
Cornell, Morello, Commerford, B. Wilk
On a cob web afternoon,
In a room full of emptiness
By a freeway I confess
I was lost in the pages of a book full of death;
Reading how we'll die alone.
And if we're good we'll lay to rest,
Anywhere we want to go.
In your house I long to be;
Room by room patiently,
I'll wait for you there like a stone.
I'll wait for you there alone.
And on my deathbed I will pray to the gods and the angels,
Like a pagan to anyone who will take me to heaven;
To a place I recall, I was there so long ago.
The sky was bruised, the wine was bled, and there you led me on.
In your house I long to be;
Room by room, patiently,
I'll wait for you there like a stone.
I'll wait for you there alone, alone.
And on I read until the day was gone;
And I sat in regret of all the things I've done;
For all that I've blessed, and all that I've wronged.
In dreams until my death I will wander on.
In your house I long to be;
Room by room, patiently,
I'll wait for you there like a stone.
I'll wait for you there alone, alone.
Na vida não peso a sorte
Pois tudo de mim deriva
A minha vontade é viva
Da vida só temo a morte
Antes de saltares para o desconhecido, assegura-te que não é um precipício. Antes de saltares para dentro de um buraco, assegura-te que consegues sair dele sozinho.
A velha ao meu lado tem a fralda cagada,
Estou preso a esta assento, mortalha
Entro em apneia. Respiro!
Perco a batalha...
Conversas triviais ao telemóvel,
No banco de trás do transporte
Palavras avulsas que me obrigo a ouvir, num desatino,
Por imposição de um tom de voz desproporcional á situação,
O resto é indecifrável,
Um misto atabalhoado de sons
Não percebo crioulo,
À minha frente um intenso ataque de tosse
Convulsões, espirros, fungadelas
Todo um misto de doenças à la carte,
Entro as fezes da velha e a doença
Reparto esta apneia,
Esta teia,
Chega a minha vez
Stop! Parto. Respiro.
A cidade é minha aldeia
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