(olhos verdes serão sempre esperança)
Os olhos verdes sonolentos traziam consigo desejos evidentes de almofada, e o ímpeto dos tempos modernos de comunicar por sms com os seus pares. Uma jovem banal mostrava-se roliça ao vestir umas leggins pretas que permitiam ver entre as malhas repuxadas a cor da pele, puxando para si os olhares matutinos, os engravatados faziam contas de cabeça, ambicionando avidamente o próximo brinquedo tecnológico como se dele dependesse a vida, o homem comum dormitava sem sonhos na viagem
Saímos todos, aos soluços, em manada, desci a rua, e lá ia ela, só mais uma entre tantas, emitindo som de caixa de musica na calçada portuguesa em saltos altos de 24,99, imitação de pura pele, vestidinho Fabio Lucci (que luxo!) deixando no ar o travo efervescente do poliéster das meias de vidro, como se fosse ela a oitava maravilha do mundo, depois de mais de meia-hora desesperante em frente ao espelho na tentativa vã de chegar a um consenso sobre com que trapinhos devia parcialmente cobrir as curvas do corpo.
- "Vesti renda senhora, vesti renda!"
(e rodopiai louca em varão ao som de palavreado obsceno e do papel-moeda friccionado)
Palmadas pequenas nas costas
Foguetes,salvas e elogios
Órfãos de actos
Sucumbem aos factos
Reinam sem trono, no vazio
Motivação sem prémio nem glória
Perpendicular ao estalar do chicote
Osso do cão obediente
Que o rói contente
E assim se engana,
E também á fome
Palavra eloquente atirada ao vento
Estéril como a terra queimada
Incentivo sem ponta de alento
Profecia de coisa passada
Moral que dura um momento
Ânimo que cedo esmorece
Motivação que só tolos engana
E que num nada se esquece
Ilusão de vitoria, disforme
Sucesso de oásis prometido
O suor que suei já secou
E tudo acabou vencido
Merda para isto tudo, teia de aranha ao vento, desde o ventre, dores de cabeça latejantes, consumismo desenfreado, Ben-U-Rons de 1grama, um gajo parecido ao Eric Clapton no metro, o meu pai na cara de mil velhotes, mendigos, medo, soluços, vida saciada de bons momentos, espartana, espartilho que agora o comprova, férias marcadas, férias gozadas, filhos nascidos, criados, vidas passadas, tecnologias ultrapassadas, saudosismos do que fomos, do que já não somos, assombros, destroços.
Ser só feliz já não chega (nem nunca chegou)
Perde 10kgs de barriga, ganha 10cm viris, gasta 60cêntimos +IVA, habilita-te a 20.000 em rifa, assiste ao campeonato da FIFA, cobiça a mulher do vizinho, aproveita os 50% de desconto em mau vinho, vibra com musica parola em carreira, faz férias de praia estrangeira, entorpecido pelo álcool colorido e doce á sombra da bananeira, mereces tudo o que tens, da esperteza aos 3 vinténs, paz ao teu espírito quieto, comportamento programado, absorto e estatisticamente correcto.
(o outro é que tinha razão)
Às vezes, em processos perto da demência, do "deixa-te andar" em direcção do vórtice da loucura, dou por mim, em poses pouco próprias, a vociferar guinchos e outros sons que por aproximação penso serem de proveniência animal, nomeadamente e em concreto, de pássaros.
Nunca gostei de pássaros, pois libertam odores, uma mescla odorífera agoniante de penas e sementes decompostas em matéria fecal, mas sempre admirei a sua loucura...
a loucura do pássaro louco,
do pássaro louco que canta e esvoaça
que cai em desgraça sem pena de si
Como posso eu reagir perante tal facto, ignorar ? Fingir que não se passou ? Rir compulsivamente, como uma criança que no seu intimo se satisfaz com maldades inocentes?
Talvez o melhor seja esquecer, esquecer tudo, partir para outra, crescer, evoluir, findar em mim próprio esses processos, quiçá, demoníacos! Jurar a mim mesmo que jamais o farei de novo, porque a idade assim não o permite, é isso que dizem nos livros e eu já me devia ter deixado de abismar com infantilidades!!
Pássaros loucos, pffff, há com cada um!!! Qualquer dia isto é só malucos na rua, só maluquinhos, só birutas a desgastar a calçada portuguesa, imitando pássaros e dizendo baboseiras, é nisto que nos vamos tornar, em imitadores de pássaros bamboleantes, a piar, tímidos, por essa calçada fora.
Vamos lá ver se a sociedade não nos dá mas é uma gaiola gigante, para piarmos com mais em conforto, com bebedouro e dispensador de sementes, e um poleiro, nunca esquecer que um bom pássaro não passa sem um bom poleiro, é posição si ne qua non.
Enfim, as respostas são apenas perguntas ao contrário e por isso, vou piar mais um pouco, para espairecer...
PIIIIIIIIIIIIIIIIIU PIUUUUUUUUUUUUUUUU PIU
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