Habito um 5º andar, partilho de forma mais ou menos democrática o meu espaço diminuto com um cão pastor alemão que me ofereceram pelos anos, que rica prenda. O meu T1 cheira a cão, e não importa as vezes que o lave, tanto o cão como o apartamento, é inútil. Partilho o meu T1 com um animal que outrora já foi selvagem, meti-o dentro do meu lar, no meu último reduto, no meu refúgio, um animal que por qualquer meio se tornou "domesticado", seja lá o que isso signifique, e do qual eu próprio me intitulei de dono, bastante egocêntrico e perverso não ? já vos falei do cheiro ? O meu sofá tem pêlos de cão, aliás, toda a casa tem pêlos de cão, eu próprio já pareço um, cheiro a um. Adoro o meu cão, e adoro a maneira como ele todos os dias de manhã ladra de sofrimento por um pedaço de liberdade, e aí, eu faço-lhe a vontade, as 18:30 quando chego do trabalho, desço com ele por um bocado, e não imaginam como ele fica contente por pisar a rua, e correr livremente pelos 2 metros de trela que eu lhe dou. Eu adoro o meu cão e ele respeita-me, vejo isso nos seus olhos, quando ele mete o rabo entre as pernas e treme, ouve um dia que ele ate se mijou todo de medo, quando ainda era pequenito, coitadinho. O meu cão nunca me mordeu, pelo menos a sério, também teve uma boa educação, só uma vez é que a brincar me deu uma mordiscadela, mas apanhou logo de seguida, nunca mais teve brincadeiras estúpidas. Odeio todos aqueles que não gostam de animais, acho isso uma barbaridade, mas enfim, há pessoas para tudo... Para estarmos certos ou errados apenas temos de estar vivos, por vezes viver pelo padrão não nos torna menos culpados...
Vieste na minha direcção, algo estava errado, os teus olhos bem abertos, não sabia o que esperar. Disseste 3 palavras, não pestanejaste, não sorriste mas também não choraste, não te entendi, perdi-me, Voltei a encontrar-me 3 segundos mais tarde, questionei os meus sentidos, teria ouvido bem ? Claro que tinha ouvido bem, senão não teria tido dúvidas. Entrei em negação, mas por quanto tempo? Não sei, O tempo agora passava devagar e dentro da minha cabeça os frenéticos ponteiros do relógio não se esqueciam de me lembrar disso. A minha boca abriu-se, engoli em seco e forcei um sorriso cínico. Falei sem hesitações ou receios, apesar de tudo sentia-me confiante.
"- Anda, vamos conversar, e pelo menos dá-me a honra de um último café.. "
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