Todos nós, seres vivos, racionais, humanos, acabamos mais tarde ou mais cedo por sentir o sabor que nos irá mudar a vida, provavelmente mesmo antes de sabermos o que ele realmente significa, mas teremos muito tempo, pois a exclusão será uma constante até á nossa morte. Todos nos gostávamos de ser primeira escolha, Nº1 de tudo o que se possa imaginar, mesmo o mais modesto dos Homens sente prazer em se sentir destacado, em ser melhor que os outros todos em alguma coisa, nem que seja, ser o mais bonzinho de todos, tal como JC quis ser, e pelos vistos foi.. A dor da exclusão é forte, deixa marcas, deixa traumas, é difícil não conseguir atingir metas, não ser capaz, isso deixa-nos de rastos, por isso fugimos, viramos a cara, não vamos á luta, não deixamos ser o Mundo a dizer-nos o que realmente valemos, porque temos medo da realidade, da derrota, da dor da exclusão, e deixamos isso para a nossa cabeça, para o nosso Mundo, onde aí somos soberanos, os melhores em tudo o que quisermos, aí não existe exclusão, nem críticas devastadoras, mas por outro lado, o retorno, a satisfação é tão falsa como a masturbação, não passa tudo de um falso orgasmo... Culpamos o bode expiatório perfeito, a preguiça, que serve de escudo para tudo o que é receios. Para quê lutar por algo, ir em frente e depois ver os outros a destruir e a desmoronar tudo em que acreditávamos... esse é o grande problema, e por causa desses medos, passamos toda a nossa vida a engolir os mesmos sapos, todos os dias, todas as horas, a todo o momento... será melhor assim ?
Quantas vezes já vimos por detrás de um sorriso amigo o reflexo afiado de uma faca apontada bem ao centro das nossas costas ? Mais tarde ou mais cedo todos nós compreendemos e chegamos á conclusão que os amigos são como as putas de rua, ou para ser mais modesto, como as acompanhantes finas do Leste, pois existe sempre uma razão, um motivo, um interesse por detrás do sentimento, nem que seja o facto de não quererem estar sozinhos no Mundo... Mas como tudo na vida, todas as regras têm excepção, e esta apesar de nem ser regra (por enquanto), também as tem. Um bom exercício é pegarmos na nossa lista telefónica, nos nossos endereços de E-mail, no nosso grupo de amigos de rua, de escola, de trabalho, de copos, de infância, enfim, todos os que possamos arranjar, e depois de todos bem juntinhos, é só peneirar, e observar que no fim de uma gigantesca lista de amigões apenas sobram 2 ou 3 grãozitos de verdadeira amizade... se muito. Quase sempre, esses, os verdadeiros amigos, são aqueles de quem mais temos saudades, aqueles de quem perdemos o rasto numa determinada altura da vida ou aqueles que nós não vemos tão frequentemente como gostaríamos. Sinceramente, dou mais valor a um inimigo que me diga na cara que me odeia do que a um falso amigo que me abraça e diz aquilo que eu quero ouvir, e que lentamente me crava um punhal nas costas, afinal quem será mais perigoso ? Aquele que sei que me pode fazer mal ou a doninha que nos oferece um abraço fraterno, para depois nos morder à traição ?
Sou bafiento e contagioso, transporto em mim a doença, a miséria, as rejeições, sou o mal de todos vós, mas no fundo quem sou eu ?
Sinto ironia no destino, vejo lágrimas num rosto que não é meu, oiço o contraste desfocado de uma gargalhada histérica, mesmo ao meu ouvido, todos são loucos, mas no fundo quem sou eu ?
Tudo o que tenho não é meu, sou um dependente, um prisioneiro, sou a esponja que vos limpa a alma, usado vezes sem conta, sou objecto, substituível e sem valor, sou aquilo que me deixam ser, triste, é o que sou.
Pisaram, vincaram os dedos, deixaram marcas de propósito, havia necessidade ? Matei-vos os sonhos ? Nunca vos neguei vida, segui sempre a vossa estrada, agora chega, serão culpa sem perdão, adeus sem despedida.
Os mares, sete, bem definidos, traçados num mapa a cores de azul, já não importa, pois para mim não já não há rota, já não pertenço a nada, respiro liberdade, vôo alto com os pés bem assentes no chão.
A vossa dor já não me aflige, já vos conheço, são podres, não prestam, agora eu sei, e nem sequer vou desviar o olhar, quero que sintam o que eu sentia, agora já estão felizes ? Depois de tanto tempo já não vos interessa ?!
Agora aproveitem, dou-vos aquilo que mais queriam, e se não aguentarem, pois morram, não me interessa, já não sou de simpatias, têm aquilo que eu vos dou, mas jamais serão razão, motivo, necessidade, para mim são indiferença, não me importa quem eu sou, sou o que sou, o que quiser ser.
Uns morrem, outros vivem, uns sonham e mais uns tantos acreditam. Uns gostam de opinar, outros gostam apenas de ouvir, uns gostam de fazer o mal, outros o bem, muitos pensam ser diferentes, todos são únicos mas no fundo iguais. Muitos são narcisistas, quase todos sedentos de algo, fama, dinheiro, saúde, amor, as velhas coisas de sempre, mas será isto que nos mata a sede ?! Talvez. Uns traçam planos, definem objectivos, uns atingem metas, outros ficam pelo caminho, morrem na praia, uns sentem tristeza pela desilusão que a vida lhes dá, outros sentem alegria por puderem estar vivos, uns têm medo da morte, outros preferem morrer a estar vivos. Uns matam, outros fogem, alguns escapam, muitos têm fobias, quase todos gostam ou amam algo ou alguém. Uns gostam de se socializar, outros gostam de se isolar, será que são amotinados ou escorraçados daquilo a que fogem ?! Uns acreditam no Homem, outros acreditam em Deus, uns sentem-se injustiçados, mas será que realmente alguém se preocupa com isso ? Uns pensam na vida, outros vivem a vida, outros vivem a vida a pensar nela, mas também, nada disto é novidade...
Se eu tivesse mais coragem, ia até à praia mais próxima, nadava pelo mar dentro, até ficar sem pé, e criava um novo tipo de jogo, dava-lhe o nome de "Âncora Humana".
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.