As palavras que são ditas hoje
Podem ser as mesmas de sempre
As tuas de ontem sem esforço
Eram de outros presentes
Palavras assim indigentes
Sem sentido não valem nada
De nada servem ser usadas
Plagiadas com indiferença
As palavras não são doença
São fluxo dos nossos sentidos
Que transformam os choros em gritos
E as alegrias em silêncios
As palavras são os momentos
Imagens daquilo que pensas
Não mostram só o que é dito
Buscas ou coincidências
Pobres palavras de amor
Prostituídas sem nexo
Como se fossem só sexo
Palavras belas tão sujas
Percebo agora desperto
Bonitas palavras maduras
Pensava serem só minhas
Mas que nunca foram só tuas
De nada nos servem procuras
No fim somos sempre quem somos
As palavras serão sempre belas
E as pessoas... pessoas
Da tristeza se faz palavra
Quando a dor trespassa o peito
Quando sinto que a vida trava
Pára e arranca no meio
Na estrada das horas perdidas
São rectas de sonhos desfeitos
E curvas falsas, fingidas
De ócio, mentiras, receios
Por entre promessas quebradas
De caras que queremos esquecidas
De pessoas que entram e cravam
Punhais em costas já feridas
Da tristeza se faz a vida
Por entre sorrisos abertos
De copos meio-vazios
Manhãs em que não desperto
De dor se enche o abismo
De um corpo não encarquilhado
Um homem que quer ser proscrito
Um corpo semi-enterrado
De tristeza se alimenta a alma
Quando de dor nos alimentamos
Quando transportamos no peito a faca
A faca que em nós próprios espetamos
Quantas vezes já vimos por detrás de um sorriso amigo o reflexo afiado de uma faca apontada bem ao centro das nossas costas ? Mais tarde ou mais cedo todos nós compreendemos e chegamos á conclusão que os amigos são como as putas de rua, ou para ser mais modesto, como as acompanhantes finas do Leste, pois existe sempre uma razão, um motivo, um interesse por detrás do sentimento, nem que seja o facto de não quererem estar sozinhos no Mundo... Mas como tudo na vida, todas as regras têm excepção, e esta apesar de nem ser regra (por enquanto), também as tem. Um bom exercício é pegarmos na nossa lista telefónica, nos nossos endereços de E-mail, no nosso grupo de amigos de rua, de escola, de trabalho, de copos, de infância, enfim, todos os que possamos arranjar, e depois de todos bem juntinhos, é só peneirar, e observar que no fim de uma gigantesca lista de amigões apenas sobram 2 ou 3 grãozitos de verdadeira amizade... se muito. Quase sempre, esses, os verdadeiros amigos, são aqueles de quem mais temos saudades, aqueles de quem perdemos o rasto numa determinada altura da vida ou aqueles que nós não vemos tão frequentemente como gostaríamos. Sinceramente, dou mais valor a um inimigo que me diga na cara que me odeia do que a um falso amigo que me abraça e diz aquilo que eu quero ouvir, e que lentamente me crava um punhal nas costas, afinal quem será mais perigoso ? Aquele que sei que me pode fazer mal ou a doninha que nos oferece um abraço fraterno, para depois nos morder à traição ?
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.