Quinta-feira, 22 de Abril de 2021

Paisagens itinerantes (do amor)

 

felicidade. verdade. amor. paixão. vodka. tequila silver. tequila gold. shots de absinto. praia. campo. lua. sol. guitarras. canções. sofás. colchões. chuveiros. suspiros. gargalhadas. sorrisos.

 

E auto-estradas sem fim, estradas nacionais secundárias de alcatrão derretido, percorridas de janela aberta, com o vento quente do Verão a soprar nos nossos pescoços, a fazer esvoaçar roupas e cabelos selvagens, de pele bronzeada de outros dias, intensos, óculos de sol a camuflar o brilho do sol, o brilho dos olhos, a minha mão a passar pela tua perna ao meter mais uma mudança, o motor a embalar esta nossa dança serpenteante por entre montanhas e vales, ou em rectas infinitas de planície, paisagens itinerantes pintadas de cinzento e verde, pintadas de cor de deserto, caqui, de horizontes azuis ou vermelhecidos, de restaurantes e cafés, de quartos de hotel, pousadas e albergues, onde chegamos cedo, onde chegamos tarde, de onde apressadamente fugimos para mergulhos em piscinas a aproveitar os últimos raios de sol do dia, desse dia, beijos ao pôr-do-sol, a repetir no próximo - na inevitabilidade do irrepetível - vivendo e aproveitando o presente, num acumular de sapatos e mochilas empoeirados de tanto andar, de roupa de praia ensopada de água do mar, bolsos cheios de areia da praia, de vestígios do crime de ser feliz, perante uma plateia de espectadores desconhecidos.

 

Tudo o que ficam são flashes, impulsos eléctricos que com o tempo vão deixando cair o sabor, e se transformam apenas numa imagem desfocada, onde nós estamos ao centro, e a que chamamos memórias, a que chamamos, saudade.

 


Mr Anger às 11:20
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Quinta-feira, 28 de Março de 2013

Memória de Ferro (O.s.p.e.n.M.r.p.v.é.T.)


"A páginas tantas da vida, se me tivesses dito que o Mundo tinha sido invenção tua, eu tinha acreditado, não por ser lógico, mas sim pelo estado irracional dos momentos, não duvidaria que todas as coisas grandiosas que existem pudessem ter tido em algum momento o toque dessas pequenas mãos talentosas, por tanto acreditar nelas e nas palavras enfeitadas de ornamentos linguísticos, tiques, convicções e portões de castelo escancarados.

 

Tu, só tu, no fim das contas, acreditando que o amor existe e tem escala, quantidades mensuráveis, recordes, então foste tu, foste e sinto que serás sempre tu o meu limite. Há muito que já desapareceram as tuas marcas, os teus vestígios físicos já foram suave ou abruptamente diluídos pelo tempo, já não apanho cabelos teus na roupa de casa ou da rua, o teu perfume há muito que já abandonou a minha pele, as vidas já seguiram outros caminhos, o verão já terminou e as colchas de inverno são puxadas agora para outro destino, mas continuas presente, onde te guardo junto de outras tantas boas memórias, que prova que o amor nunca se apaga mas que mal (di)gerido pode facilmente tornar-se em doença incurável, patologia mental a roçar a loucura se por ela nos deixarmos dominar, deslocando-nos o centro de gravidade para mais perto do chão, arrastando-nos, colocando-nos de joelhos subservientes à dor, atacando-nos permanentemente de forma impiedosa sempre que a impossibilidade de um beijo se torna num doloroso facto consumado na nossa cabeça e que abraços e momentos se figuram como irrepetíveis, sufocantes, meras fotografias mentais cada vez mais esbatidas ou consumidas, em chamas."

Será então esse o lugar digno para um amor maior, um punhal cravado que teima em sair das nossas costas? Um mero resultado doloroso da sua privação? A consequência directa de uma jogada salvadora que ficou por fazer? Uma auto-punição constante por um qualquer esquizofrénico "erro crasso" que nos levou a sucumbir ao xeque-mate?

O tempo diz-nos que de nada servirá essa razão, a filosofia barata ou a irracionalidade de tentar apagar ou autopsiar os factos, a seu tempo, com paciência e sabedoria isso soará apenas a escape de quem tenta a todo o custo não querer sofrer. No fim, se não cedermos à loucura, ao devaneio, veremos que o que nos resta será sempre e inequivocamente apenas amor, mesmo que já extinto, datado, e aparecerá sempre, mesmo que não se queira, na imagem do sorriso do outro, da sua maneira de ser, da sua beleza, inteligência ou sentido de humor, memórias conjuntas e felizes de um passado que  estranhamente, ou felizmente, depois de aceite já não provoca qualquer tipo de dor, angústia ou desespero, apenas uma espontânea e passageira saudade expressa fisicamente num por vezes inoportuno sorriso parvo de quem recorda um momento de felicidade em segredo:

"Nada amor, estava só a lembrar-me de uma coisa engraçada, então e afinal, sempre passamos no supermercado?"

(E são essas memórias que nos fazem bem à vida)


Mr Anger às 12:10
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Domingo, 7 de Março de 2010

Pensamento à janela... (de cotovelos em pedra fria)*

 

 

 

 

 ...certas questões morrem solteiras (preguiça, amor, ódio, saudade e vingança), porém, se tudo se soubesse não se faziam perguntas, não se procurariam respostas, dentro e fora do que somos. Em certos dias, falta-me o ar, fisicamente, de “prensa no peito” e tudo a que tenho legitimamente direito, mesmo com tanto espaço, sufoco de liberdade, na ânsia de ter de regressar a essa prisão, que afinal apenas reside em mim, cárcere construído de raiz, tijolo por tijolo pelas minhas próprias mãos (culpa), cela de aparência modesta e populada de incertezas, de bibelôs de medo nas prateleiras, lençóis por desmanchar.

 

Suspiro “ais” ao vento e recordo também "suspiros", os bolos de elevadas calorias que tantas vezes comi em miúdo, e que me despertam para o corriqueiro pensamento de como o tempo passa depressa - e de como facilmente se perde tempo - se avançam ponteiros e se arrancam folhas do calendário, 10 anos foram ontem, 20 anos a semana passada, e o que fica guardado ? Pouco e mesmo assim vago. Resumo (e reduz-se) tudo a um pequeno novelo, condensado, (como uma gaveta cheia de quinquilharia, onde se guarda de tudo) de fotografias e filmes de pessoas, objectos, situações e sítios, mas que parecem sempre poucos, que parecem sempre não conseguir fazer jus a uma vida plena de emoções, como se mais se pudesse ter feito, como se mais pudesse ter sido possível de fazer, como se mais nada se pudesse acrescentar (de novo), como se o inverno tivesse vindo para ficar, frio e ameaçador, e eu de edredon por meter na cama mas já a sofrer de antecipação por o não ter posto e que, nesse medo, me perco e acabo por não pôr, sofrendo efectivamente do frio que tinha medo de sofrer.

 

Tenho tudo, sempre consegui tudo, mas abertamente falando, que tenho eu? Meia dúzia de conformismos burgueses, meia dúzia de manias revolucionárias, frases feitas, arrogância, desdém, algo a que chamo amor quando quero ser amado, pouco mais, nunca houve muito mais que isto, certamente...

 

Recordações, sempre elas, mas porquê guardar na memória, acontecimentos tão simples e aleatórios como encontrar um "pé de pato" da Churchill Makapuu  nos seus tons originais, azul de ponta amarela, num passeio estival no principio da década de 90 perto da praia da Almagreira? Não faz sentido, era só um, ainda por cima um gigantesco "L" e nem sequer fiquei com ele... isso ou recordar com exactidão historias de outros, contadas ou vistas, melhor que os próprios. Nada disso é aparentemente útil ou utilizável, mas ironicamente, também sei coisas que nunca ouvi, vi ou conheci, mas sei o que contam, o que são, o que me querem dizer, tal como desconhecidos que sabemos serem fruta podre, confirmados na primeira trinca gulosa, cuspida de seguida, mostrando o verme que a devora.

 

Saudades, eternas saudades, saudades de "tio patinhas" e pipocas com açúcar debaixo de um alpendre de um quintal que já não existe, na companhia de um cão que já morreu, tenho saudades de pescarias hoje em dia impossíveis, de caminhadas pela praia cada vez mais improváveis...


(tive isso tudo um dia na palma da mão aberta, mas agora de mão fechada, tenho medo de a voltar a abrir, e não encontrar... nada)

 

 

* Sara também pensa assim, mas só nos dias em que a chuva vem e bate na janela virada para o rio (Douro)...
 

 


Mr Anger às 14:00
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Quarta-feira, 24 de Junho de 2009

Coisas que acontecem entre as 24:00 e as 08:00

 

"Não fales mais... não fales demais... meu amor... deixa-me sentir-te a alma, sei que é estúpido dizer isto, parece conversa de poeta aprisionado em quarto almofadado… mas sei que percebes o que digo...

 

Deixa-te estar só assim, aconchegada, o tempo que quiseres ter o teu corpo nos meus braços... deixa-me passar a mão pelo teu cabelo, prendê-lo suavemente atrás da orelha, e sentir a tua respiração... és linda aos meus olhos (será que realmente o sabes ?)... e eu só quero estar assim, a ver-te ali, perfeita nesse imagem... nem sei bem como o dizer, como explicar a paz e o amor. 

 

Acho que estamos numa sala qualquer, num sofá, talvez o teu, ou talvez no conforto desconfortável dos assentos paralelos do carro, com travão de mão ligeiramente aliviado e manete das mudanças engatada em terceira, mas isso são questões físicas, descartáveis para a ocasião, que pouco importam...

 

Serás sempre a minha princesa (acho que não aceitas isso)... e a memória do toque da tua pele não basta... mas tem de servir...

 

Demasiado doce... demasiado suave... realmente demasiado bom para ser verdade...
 

 

Não me belisques já... por favor... só mais 5 minutos..."

 


Mr Anger às 07:55
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